Você também colocou Bombril na antena da TV?
- luís menna barreto

- 16 de mar.
- 4 min de leitura
Atualizado: 22 de mar.

Outro dia, meu filho estava vendo vídeos no YouTube, e apareceu o ator Carlos Moreno. Lembram dele? Do comercial do Bombril, aquele esfregão de lã de aço. O João estava vendo alguma coisa sobre recordes e descobriu que esta foi a campanha publicitária mais duradoura da história da televisão mundial com o mesmo ator! E ele ficou intrigado com o slogan em que o ator dizia que “Bombril tem 1001 utilidades”.
— Como assim, 1001 utilidades?
Bem, deixa eu explicar algumas coisas. O João está numa fase bem “literal”, ou seja, se falam 1001 utilidades, ele quer saber quais são. Na verdade, o João não conhecia nenhuma das utilidades! Nenhuminha! Nem a utilidade “padrão”, que é arear panelas, ele conhecia. Daí, claro, eu expliquei para quê serve o Bombril. Mas então, ele perguntou:
— Tá, e as outras 1000 utilidades?
Eu falei que mil eu não conhecia, mas tinha algumas "tradicionais". Ele quis saber quê “tradicionais”, e eu falei, por exemplo, a clássica utilidade de melhorar o sinal da TV colocando Bombril na antena!
— O quê? Que antena?
Pois é… o João tem 11 anos. Ele não sabe que as TV’s tinham antena! Daí, quando eu tentei explicar que a gente tinha que ficar movimentando as antenas de um lado para outro até achar a melhor recepção de sinal, ele achou engraçado, e pediu para que eu contasse mais. E ficou assombrado em saber que além da antena na própria televisão, todas as casas tinham uma antena externa, quase num formato "espinha de peixe", normalmente em cima do telhado. E, quando vinham ventos fortes, viravam a antena de posição, e a gente tinha que subir no telhado, ou pegar uma escada e ficar o mais perto possível para ajeitar a antena com o sarrafo que servia para erguer a corda do varal…
Nooooooossa…! Foi muita informação: "antena externa", "sarrafo", "varal"…? Tentei explicar tudo devagar! Um mundo pré-histórico surgiu aos olhos do meu pequeno João. Ficou impressionado ao saber que havia um pequeno botão circular que girávamos para trocar de canal, e que o botão ficava grudado na TV, que a gente tinha mesmo que levantar e ir até a TV para isso. E assim mesmo, apenas quando havia mais de um canal com sinal! Nem me arrisquei a contar acerca das TV's em preto e branco (a da nossa casa, na minha infância, era assim) que muitas pessoas colocavam papel celofane na frente pra ver com alguma cor.
Isso é do teu tempo? Báh, então teu maior problema de saúde já começa a ser “feliz aniversário”!
Eu fiquei pensando que quando eu era criança, isso tudo era parte de nossa rotina, e nada soava estranho como soou para o João, hoje. Mas daí, eu lembro que eu ficava rindo e imaginando como o mundo deveria ser chato no tempo do meu pai, que me contava que no tempo de criança dele nem havia televisão! “Que mundo chato”, eu pensava! Como pode haver um mundo sem televisão? Eu lembro que eu li uma tirinha (história em quadrinhos publicada nos jornais escritos, aquela espécie de "internet analógica") em que havia a “Família Brasil” do escritor Luís Fernando Veríssimo e, numa dessas, o neto estava no colo do avô que contava para ele que no seu tempo não havia televisão. E o garoto perguntou: “Mas então, onde vocês ligavam o videogame?”
A lógica do João é essa do garoto da Família Brasil. Se eu contar que não havia internet, é capaz de o João perguntar "mas então como a gente via os vídeos do YouTube?" É difícil pensar em um mundo sem algo que faz parte do nosso dia a dia desde que nascemos!
O meu dia a dia tinha pasta de dentes Kolynos. Aquela amarela, com as letras verdes. Os tubos eram de uma espécie de metal, com a tampa verde fininha. Lebram? Havia as Duchas Corona que eram "um banho de alegria num mundo de água quente". O Nescau era vendido em latas que a tampa, quando estava atarraxada, a gente tinha que abrir enfiando o cabo de uma colher por baixo e, depois, tinha de cortar o lacre, que era em um metal muito mais fino! Nossas mães davam Biotônico Fontoura para nós!
A novela das 8 (20h) começava mesmo às 8h. E era um evento para a família. E havia aquela coisa muito legal que, antes do último intervalo, anunciava: “a seguir, cenas dos próximos capítulos”. Daí, quando queríamos saber sea novela já estava terminando perguntávamos: “Já deu o ‘a seguir’”?
Era um tempo de lojas físicas e de departamentos, em que pegávamos o elevador e a ascensorista anunciava os produtos de cada andar: "3º andar, cama, mesa e banho; 4º andar, moda masculina, feminina e infantil..." ; tempo em que nos programávamos para ver aquele filme legal na Sessão da Tarde ou Tela Quente e no intervalo íamos correndo para o banheiro, porque não havia a tecla de pause.
Pensando em tudo isso, fiquei imaginando, quando chegar na vez do João contar para seus filhos como era o mundo no tempo dele… Talvez explicar que ainda tinha que ter o "imenso" trabalho de colocar o iPad para carregar em um fio, ou que ainda havia lugares em que se pagava com dinheiro de papel, espante muito os filhos dele, meus netos… Fico pensando quais aparelhos com tecnologia de ponta hoje, serão inimaginavelmente obsoletos para meus netos no futuro.
Lembram que tudo começou porque o João queria saber das 1001 utilidades do Bombril? Acabo de lembrar de mais uma: trazer o passado de volta, com esse delicioso sabor de nostalgia…!
Luís Menna Barreto, em 18.2.2019
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